DEJAD adverte: Orar no monte pode ser prejudicial à saúde

Por Djanicy Braga

Ignorando a falta de segurança e a criminalidade no Rio Grande do Norte, grupos de religiosos se arriscam em busca de “estar mais perto de Deus”.  Há poucos dias mais um caso de violência trouxe à tona a prática duvidosa de algumas pessoas de “orar no monte”. O fato ocorreu no último dia 14, quando uma jovem de 18 anos foi estuprada ao participar de uma vigília com mais 15 pessoas nas dunas de Jenipabu, em Extremoz - município do litoral norte de Natal.

O tenente-coronel da Polícia Militar do RN e diretor do Departamento de Jovens e Adolescentes (DEJAD), evangelista Marcos Baptista Mendes, afirma que essa forma de se buscar a Deus é considerada perigosa e que existem outras maneiras de estar com Deus em segurança. “Penso que dentro do nosso quarto ou no templo estamos mais seguros, sem correr os riscos que a exposição em um lugar como dunas e outros espaços desta natureza podem promover”, comentou.

Alguns dos argumentos utilizados por certas pessoas para se reunirem em locais afastados como montes, dunas, florestas, entre outros, são registros bíblicos no Novo e Velho Testamento de ajuntamentos em montes, e, especialmente, a menção do próprio Jesus orando isolado. Outros crêem que locais altos e afastados lhes proporcionam maior liberdade e mesmo proximidade de Deus.

Mendes explica que o fato de Jesus ter orado em montes, não se relaciona com a oração em si. Segundo ele, Cristo orou em alguns lugares elevados para fugir do assédio das multidões e, assim, ter um momento a sós com o Pai. “É preciso ter cuidado com esse tipo de argumentação, porque não tem fundamento, não está respaldada biblicamente. Se fosse assim, muitos estariam orando em matas, porque Jesus orou no Jardim do Getsemâni, ou em cavernas como Elias”. E continuou: “ademais, que tipo de liberdade essas pessoas estão buscando? Será que há algo tão extraordinário, alguma manifestação tão "poderosa" que não possa ocorrer na igreja?”, questionou o evangelista.

Praticantes da “escalada espiritual a montes” falam que hoje a “Lei do Silêncio”, por exemplo, persegue os cristãos. Com a proibição de qualquer tipo de som com volume elevado após às 22h, eles defendem como saída orar em locais pitorescos. “A lei foi elaborada visando preservar direitos que são de todos. Também entendo que não há razão para barulhos excessivos quando se busca ao Senhor em oração. É natural entre os pentecostais que haja uma certa efusão do Espírito, porém, não deve servir de justificativa para excessos, afinal a Bíblia nos diz no livro de Isaías capítulo 59 e verso1 “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para que não possa ouvir””, disse Marcos Mendes.

O que a Bíblia diz

O líder do DEJAD menciona ainda a passagem do Evangelho de João, capítulo 4, quando Jesus ensinou à mulher samaritana que havia chegado o tempo em que os verdadeiros adoradores adorariam o Pai, não em Jerusalém ou, tampouco, no monte Gerizim, mas em espírito e em verdade. “Ou seja, isso representa onde nós estivermos buscando”, complementa. 

Ele explica ainda que, apesar de tudo, não se pode dizer que a bíblia condena explicitamente essas reuniões. No entanto, ele recomenda que todos sigam as orientações bíblicas como o registro do livro de Mateus 6:6: “Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”. O tenente-coronel Marcos Mendes dá ainda outras referências do texto cristão: "e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações(...) E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza  de coração" (livro de Atos dos Apóstolos 2.42,46).

Dados sobre violência no RN

Se com todas as orientações bíblicas ainda existem aqueles que arriscam a vida deles e de outros desavisados, talvez dados sobre segurança e criminalidade no nosso estado possa endossar o cenário de perigo a que eles se submetem.

O Ministério da Justiça do Brasil e o Instituto Sangari divulgaram um estudo chamado “Mapa da violência 2011: os jovens do Brasil”. Nele estão números impressionantes que devem servir de alerta a todos. Essa pesquisa considera o período de 1998 a 2008. Desde 2008, o RN ocupa o 19º lugar no ranking nacional de homicídios a cada cem mil habitantes da população total. Essa colocação sobe para 16º, quando considerados assassinatos de jovens entre 15 e 24 anos.

A grande surpresa vem ao encontrar o estado potiguar no sexto lugar entre os estados da Federação com maior variação da taxa de homicídios no período estudado. Nesse intervalo, o crescimento foi de 172,8%, com taxa de 23,2 homicídios para cada 100 mil habitantes.

A análise nacional dos registros de ocorrências feitos pelas Polícias Civis entre janeiro de 2004 e dezembro de 2005, divulgada pelo Ministério da Justiça, também dá sinais sobre violento palco em que está a sociedade norteriograndense. No final de 2005, ocorrências de crimes violentos não letais no RN, que incluem atentado violento ao pudor, estupro, tentativa de homicídio e tortura, somavam 943 casos. Cerca de 30 para cada cem mil habitantes. Já os crimes violentos letais intencionais - homicídio doloso; lesão corporal seguida de morte e roubo seguido de morte (latrocínio) – totalizaram 597. Ou seja, quase 20 vítimas a cada 100 mil pessoas. É importante destacar um dado triste e preocupante. Em 2005, foram registrados 180 estupros, o que equivale em média a 11,74 violentadas para cada 100 mil mulheres.

Infelizmente, parece que todos esses índices, assustadores para qualquer cidadão, não afugenta os mais assíduos defensores dessas orações em montes. 

Recomendações de segurança

O policial Marcos Mendes dá recomendações aos jovens que evitem freqüentar esses locais de orações afastados, escuros e sem segurança. “Vivemos tempos difíceis e a questão da segurança é séria. Não podemos achar que a polícia vai resolver tudo, ou que os anjos vão ter a incumbência de zelar por nossa integridade, quando nós mesmos não tomamos nossas precauções. Precisamos fazer a nossa parte”.

Ele lembra que muitos criminosos sabem dessa prática de isolamento para oração e alguns deles até já freqüentaram igrejas. “Não devemos tentar ao Senhor, e isso é bíblico, achando que porque vamos ao alto de uma duna orar estamos totalmente imunes à ação de bandidos. Creio em livramentos, mas defendo que devemos ser prudentes e sensatos”.

SERVIÇO:

*telefones úteis 24h

- Policia Militar: 190

- SAMU: 192

- Corpo de Bombeiros: 193

Assista ao vídeo: Mapa da Violência 2011: Os jovens do Brasil

1 comentários:

Maciel disse...

Muito boa matéria. Parabéns ao DEJAD pelo nível das postagens!

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